O Desconfi(n)ar das escolas

por Filipe Vilar

O tempo soma e segue. Não há razão para voltar atrás. Mas, como em tudo na nossa vida, há que analisar o passado e com ele aprender, para que o futuro seja mais profícuo.

As escolas estiveram encerradas durante cerca dois meses, e com elas vidas de alunos, professores e encarregados de educação ficaram à espera da ação governativa.

As escolas sentiram na pele o “rugido de leão” da tutela, ao não permitir que os seus planos de contingência pudessem ser colocados de imediato em ação, aquando da renovação do Estado de Emergência no mês de janeiro.

Todos sentiram a mais profunda desilusão ao verem novamente, em menos de um ano, as salas de aula ficarem vazias e os recreios silenciados pelo medo do vírus.

Não estariam à espera desse passo atrás. Na verdade, toda a comunidade educativa contava poder dar seguimento aos planos de trabalho no Ensino a Distância, logo de imediato, mas não foi assim. Foi um problema de “falta de computadores” disseram alguns. Mas, não! Foi um problema de autonomia.

O regime de autonomia das escolas, prevista pelo Decreto-Lei nº75/2008 e aprofundada pelo Decreto-Lei nº137/2012 veio eivado de uma rede emaranhada de interpretações ambíguas do espírito das próprias Leis. Escolas públicas e privadas ficaram sem poder prestar o seu serviço maior, poder ensinar.

Agora que nos encontramos próximos do final do ano letivo, assiste-se a alguma azáfama na entrega do material eletrónico para as aulas a distância, a colocação em prática da testagem em massa e mais recentemente a vacinação do pessoal docente e não docente. É de salientar que já diz o velho ditado, “Mais vale tarde do que nunca”.

A questão que se coloca é, quando irá a tutela apresentar aos portugueses, os planos de ação para o próximo ano letivo? Não se esqueça Senhor Ministro que a Pandemia não terminou e que estamos mais próximos do início do ano letivo seguinte do que das Autárquicas de 2021… Não podemos ter novamente um ano letivo com tantas curvas e incertezas. As crianças e jovens não iriam aceitar ver os seus professores novamente a dar instruções pela tela nem conseguiriam acompanhar certamente as aulas da TV.. Será este o tempo de dar às escolas as ferramentas necessárias para a verdadeira “missão de substituição: da facilidade pelo esforço, do dirigismo pedagógico pelo rigor científico, da indisciplina pela disciplina, do centralismo pela autonomia.”.

Filipe Miguel Vilar

Professor do Ensino Básico e Secundário

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